A vida real é outra coisa
Há tempos sem postar textos inéditos neste blog, esperava o estranhamento para que não voltasse a mesmice do imediatismo do mundo blogueiro, no entanto, o tempo urge e faz-se necessário aspirar coisas tendenciosas e presentes em nosso cotidiano. Esperava a hora certa para trazer à luz aqueles que passam por aqui a espera do valor genuíno do que tanto aclamam ser arte na musica, no cinema, na televisão, nos palcos... contudo, já disse, o tempo é uma ampulheta verticalizada prestes a se esvaziar. Tratar do cotidiano não é e nunca será tarefa fácil para ninguém, seja esse cientista, escritor, físico, médico ou um simples humano em sua plena condição de sobrevida, porém, tratar dos embates a que esse ‘cotidiano’ nos oferece pode ser um tanto interessante. Estou desenvolvendo uma pesquisa conflituosa perpassando os campos da historia da arte, etnicidade e as representações da memória negra na literatura brasileira. Tenho lido autores nacionais e muitos textos técnicos e/ou científicos que abordam a questão da presença e relevância do negro brasileiro em vários setores de nossa sociedade. Confesso que a relevância do “negro” seja menos interessante para mim ‘negro’ do que se faz a presença ‘nossa’ (negra) na sociedade e, mais que isso, os processos de inserção e manutenção dessas presenças na sociedade brasileira, visando tais lugares e suas visibilidades. Emergido nesses estudos eis que, em um dos intervalos de uma leitura e outra, encontro na Internet o anuncio emblemático daquilo que seria a primeira princesa negra coroada para uma produção Disney. A surpresa foi imediata e antes de ler o texto – juro! Observei atentamente a fotografia da princesa divulgada no sitio. Sub-repticiamente pensei: seria uma princesa egípcia? Será que eles produziram um roteiro sobre uma princesa africana capturada no período de colonização e pontuaram sua vida trágica em um paìs ocidental enriquecido as custas do trabalho escravo? Talvez possam estar fazendo um relato de uma princesa africana em seu lugar de origem? Nenhuma das questões foram elucidadas, tanto pela estética “branca” da princesa pintada de marrom com traços tipicamente europeus quanto pelo caráter comercial na qual bonecas e manequins são enquadrados. Novamente pensei: De que princesa negra se trata essa fabula? Todos esses questionamentos e a fotografia me levaram a explorar o caminho em busca de respostas. E assim, de repente, não mais que de repente, descubro que “The Princess and the Frog” - nome original - se passa na cidade norte-americana de Nova Orleans, na década de 1920, época chamada de Era do Jazz. Aquilo que poderia me saciar a sede surtiu efeito contrario e me levou a outras indagações: havia monarquia em Nova Orleans, especificamente na década de 1920? Antes que eu alguém escreva advertindo-me de que se trata de um conto de fadas, eu me defendo dizendo que não sou pessimista de tudo, e justifico partindo do pressuposto que os irmãos Grymm ao elaborar Branca de Neve e os Sete Anões, bem como Cinderela e todas as suas outras historias, trataram de Contextualizá-las dentro de uma coerência historicizada e mesmo os apropriadores de seus contos o fizeram sistematicamente, dando espaço para a fabula dentro da lógica social. Mesmo sendo um produto direcionado à crianças, nenhuma delas hoje, poderia se deixar enganar ao pensar que na década de 1920 em Nova Orleans havia monarquia, e como entra a historia negra envolta aos movimentos do jazz nesse período? Imagino eu que qualquer ação em prol de reparos históricos e sociais não podem ser elaborados de qualquer maneira sem que haja coerência e comprometimento com os sujeitos a serem retratados. Princesas negras tem a pele negra e os cabelos crespos, mesmo que na contemporaneidade utilizem químicas e tratamentos para o cuidado de si e de seus cabelos. Existem princesas negras? Sim, elas existem e estão em varias partes do mundo africano e nos espaços ocidentais também, mas não usam vestidos brancos para o equilíbrio de sua cútis ou afunilam seus narizes para perder aquilo que naturalmente exemplifica sua fisionomia, nem abrem mão de uma costela para se manterem longilineas e frágeis tah life is real!
Ayo é uma interprete e compositora de descendência africana responsável por uma nova possibilidade de som, misturando jazz, soul e blues. Ayo, que em ioruba significa prazer é o exemplo claro do perfil e dos modos de uma princesa negra. Carpe diem!
Confira aqui o video promocional de "A princesa e o sapo":
Ayo é uma interprete e compositora de descendência africana responsável por uma nova possibilidade de som, misturando jazz, soul e blues. Ayo, que em ioruba significa prazer é o exemplo claro do perfil e dos modos de uma princesa negra. Carpe diem!
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Comentários
Abraços.
http://curiosidadesdoplantaterra.blogs.sapo.pt/
Bjo,
Sara.