Visualidades e racializações: o PNLD e as imagens nos livros de História do Ensino Médio (2008-2018)

Volume 2 do livro O que se ensina e o que se aprende em História: a historiografia didática em debate


Túlio Henrique Pereira e Maria Telvira da Conceição escreveram juntos o capítulo Visualidades e racializações: o PNLD e as imagens nos livros de História do Ensino Médio (2008-2018). O capítulo faz parte do projeto O que se ensina e o que se aprende em História, trabalho organizado pelas pesquisadoras Juliana Teixeira Souza e Margarida Maria Dias de Oliveira, em duas etapas e dois volumes.

Com o propósito de diminuir a distância entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento escolar, a universidade e a escola, as organizadoras reuniram pesquisadores de diversas áreas do conhecimento de variadas regiões do país para produzirem sobre a importância temática que permeia o espaço escolar.

O resultado foi a realização do encontro O que se ensina e o que se aprende em História: a historiografia didática em debate na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no formato remoto, em 2020; e seus desdobramentos culminaram com a escrita de dois volumes construídos previamente e concluídos após o evento.

Tanto o evento quanto os livros focaram na crítica dos professores universitários ao conteúdo dos livros didáticos de História, sua construção e inserção no mercado editorial, e o uso massificado enquanto principal recurso nas salas de aula.

No segundo volume seguem reflexões sobre os usos e abordagens acerca das representações de diversos grupos sociais nas páginas dos livros que são estudados por alunos de todo o país. A capilaridade do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que distribui as obras didáticas de Norte ao Sul, em todos os municípios brasileiros, por si só já demonstra a potência deste tema significativo para o universo acadêmico e escolar.

Link para baixar gratuitamente: https://www.editoracabana.com/_files/ugd/e2a408_625db11262e6448895168f2e54d45d49.pdf




Leia trecho do capítulo:

Visualidades e racializações: o PNLD e as imagens nos livros de História do Ensino Médio (2008-2018)

As imagens são lidas mais rapidamente que os textos, elas atingem maior número de estudantes, despertam atenção e produzem efeitos de realidade, identificações e distanciamentos. Os livros didáticos da disciplina História são tomados por imagens de múltiplas origens, culturas e temporalidades. Muitas dessas imagens são produzidas na atualidade, mas em diálogo com o passado, elas nos revelam as referências, e sensibilidades de seus autores nos contextos de suas produções. A partir da leitura e interpretação dos conteúdos visuais somos capazes de perceber, nos vestígios e nos símbolos, as articulações sociopolíticas e culturais nas quais esses documentos visuais se constituíram referência.

Do ponto de vista da narrativa visual, todas as coleções apresentam um rico acervo imagético marcado pela diversidade de técnicas e diálogos temporais: esculturas, pinturas, litografias, ilustrações, cartazes, estampas, representações iconográficas, afrescos, manuscritos, desenho, aquarelas, murais, propagandas, com a prevalência de registros em forma de gravuras e fotografias. Ou seja, as imagens que configuram o que denominamos nesse texto de imagens racializadas e/ou que potencializam esse discurso, são estruturantes da escrita escolar da história produzidas nos últimos dez anos, dão conta de articular uma narrativa conectada e coesa em relação às singularidades da permanência da perspectiva da História local da Europa em seus marcos cronológicos clássicos, com pitadas da História dos outros continentes (África, América).

Outro aspecto que configura o discurso racial no aporte imagético da escrita escolar que vai de 2008 a 2018, diz respeito ao enquadramento temporal ao qual esses registros imagéticos se remetem: em sua imensa maioria à chamada época moderna e contemporânea, com predominâncias dos séculos XVI ao XIX. E, por último, o século XX. São nesses três marcos temporais delimitados pelos acontecimentos e processos da História do Ocidente, os quais se localiza as narrativas raciais de cunho imagético nessa produção. Da constatação desse aspecto, emerge um dado importantíssimo para entendermos a problemática da racialização ancorada na escrita escolar da história: a intrínseca relação entre a manutenção de uma narrativa histórica eurocêntrica, atrelada a seleção sistemática dos marcos temporais europeus e do respaldo de um conjunto de registros visuais centralizados na modernidade europeia. Compreender a construção desse discurso é sem dúvida uma chave de leitura fundamental para compreender a permanência dessa narrativa.

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