Em 18 de Fevereiro de 2013
Consta no meu Registro de Nascimento que eu
nasci no dia 18 de fevereiro do ano de 1982, às 9 horas e 32 minutos no
Hospital e Maternidade Santa Rita da cidade de Itumbiara, no Estado de
Goiás. Ainda recém-nascido fui apartado dos braços da minha mamãe
Francisca e levado para internação por problemas respiratórios. Minha
vovó Ilda Margarida faleceu quando eu ainda não havia completado o meu
primeiro aninho, e o meu pai biológico nunca quis se tornar o meu papai.
Cresci saudável apesar de tantas limitações econômicas e sociais. Mas a riqueza que nos cercava transpunha-se a qualquer sistematização e ordenações humanas. Havia música que saia da vitrola do meu vovô Eurípedes Romão e se impregnava na casinha de quatro cômodos em que morávamos, nos galhos e folhas das árvores no quintal, na chuva, no sol... E foi por meio dessa vitrola que pude viajar até a França, ainda criança, através do universo dos contos de fadas de Charles Perrault, que saiam sonoros do pequeno vinil que o vovô havia me presenteado.
Depois viajei até a Alemanha e vislumbrei a profusão da imaginação humana por meio dos contos de fadas dos Irmãos Grimm. A mamãe Francisca me presentou com uma coleção e se encarregava ela mesma de lê-la todas as noites para que o seu filhinho pudesse adormecer.
Ainda criança conheci o rádio e as canções de Nelson Rodrigues, Orlando Silva, Elizete Cardoso, Agnaldo Timóteo, Nina Simone, Ella Fitzgerald, Ray Charles e Billie Holiday. E quando a mamãe Francisca, trabalhando como empregada doméstica, nos comprou a primeira televisão, pude conhecer os Estados Unidos e sua grande Nova Iorque pela voz de Frank Sinatra e Judy Garland, e pelos inúmeros filmes de faroeste com que o vovô adorava se abstrair.
Pude me transpor até a Inglaterra pelas imagens e palavras suscitadas em Oliver Twist, romance escrito por Charles Dickens. A história do menininho inglês e órfão perdido na Londres de 1838 em sua ascendente industrialização também me contemplaram os sentidos e às sensações provocadas pela fome e pela exploração do homem pelo homem.
No tempo do colégio, pude descobrir as diferenças sociais, as mazelas e os juízos alheios ao evidenciar a pele preta a revestir o meu corpo; e foi possível sentir de forma aguda o medo, a solidão, a opressão, a baixa-estima e os coleguismos. Mas também pude aprender a admirar quem não fosse da família, pois pude amar devotamente minhas professoras mais intuitivas, receptoras, delicadas e comprometidas com a profissão que haviam escolhido. E aprendi a escrever as minhas próprias estórias e a minha história.
É no meu trigésimo primeiro aniversário que faço uma reflexão sobre a crença e a experiência humanas, e sou convicto ao dizer que acredito na existência da alma. Pois, por alguma razão, aprendi a assimilar valores, associá-los, dissociá-los e agregá-los ou não à minha consciência. Talvez eu seja uma alma velha que tenha conseguido guardar muitas das experiências cósmicas do universo, e da infância, e que agora as regurgita com o intuito da compreensão de si no embaciado do espelho a minha frente.
Eu ainda não descobri a razão pela qual vim parar aqui. Nem o porquê de tudo que me cerca e me deixa confuso, alegre, disperso, otimista e sonhador. Eu não sei qual é o poder da vida nem o significado do poder que as palavras exercem sobre mim. Acho que ainda não aprendi a gostar de ser gente, embora eu ame a gente desse mundo em sua complexidade e diversidade. E adore coisas humanas como sentir saudade, comer doce, ouvir música, ler livro, admirar pinturas, plantas e fotografias, assistir a filme e escrever.
Enfim, gostaria apenas de dizer que eu acredito ser um ser constituído por tudo o que se experienciou no cosmos e nessa vida. E dizer que agradeço imenso às lembranças, o carinho, todos os abraços, torcida, afeição, solidariedade, força, magnitude e compaixão de cada um que se ocupou de me felicitar nesse aniversário.
O meu abraço mais tenro. E o meu desejo de que todas as crianças tenham comida no prato e o universo na mente.
Cresci saudável apesar de tantas limitações econômicas e sociais. Mas a riqueza que nos cercava transpunha-se a qualquer sistematização e ordenações humanas. Havia música que saia da vitrola do meu vovô Eurípedes Romão e se impregnava na casinha de quatro cômodos em que morávamos, nos galhos e folhas das árvores no quintal, na chuva, no sol... E foi por meio dessa vitrola que pude viajar até a França, ainda criança, através do universo dos contos de fadas de Charles Perrault, que saiam sonoros do pequeno vinil que o vovô havia me presenteado.
Depois viajei até a Alemanha e vislumbrei a profusão da imaginação humana por meio dos contos de fadas dos Irmãos Grimm. A mamãe Francisca me presentou com uma coleção e se encarregava ela mesma de lê-la todas as noites para que o seu filhinho pudesse adormecer.
Ainda criança conheci o rádio e as canções de Nelson Rodrigues, Orlando Silva, Elizete Cardoso, Agnaldo Timóteo, Nina Simone, Ella Fitzgerald, Ray Charles e Billie Holiday. E quando a mamãe Francisca, trabalhando como empregada doméstica, nos comprou a primeira televisão, pude conhecer os Estados Unidos e sua grande Nova Iorque pela voz de Frank Sinatra e Judy Garland, e pelos inúmeros filmes de faroeste com que o vovô adorava se abstrair.
Pude me transpor até a Inglaterra pelas imagens e palavras suscitadas em Oliver Twist, romance escrito por Charles Dickens. A história do menininho inglês e órfão perdido na Londres de 1838 em sua ascendente industrialização também me contemplaram os sentidos e às sensações provocadas pela fome e pela exploração do homem pelo homem.
No tempo do colégio, pude descobrir as diferenças sociais, as mazelas e os juízos alheios ao evidenciar a pele preta a revestir o meu corpo; e foi possível sentir de forma aguda o medo, a solidão, a opressão, a baixa-estima e os coleguismos. Mas também pude aprender a admirar quem não fosse da família, pois pude amar devotamente minhas professoras mais intuitivas, receptoras, delicadas e comprometidas com a profissão que haviam escolhido. E aprendi a escrever as minhas próprias estórias e a minha história.
É no meu trigésimo primeiro aniversário que faço uma reflexão sobre a crença e a experiência humanas, e sou convicto ao dizer que acredito na existência da alma. Pois, por alguma razão, aprendi a assimilar valores, associá-los, dissociá-los e agregá-los ou não à minha consciência. Talvez eu seja uma alma velha que tenha conseguido guardar muitas das experiências cósmicas do universo, e da infância, e que agora as regurgita com o intuito da compreensão de si no embaciado do espelho a minha frente.
Eu ainda não descobri a razão pela qual vim parar aqui. Nem o porquê de tudo que me cerca e me deixa confuso, alegre, disperso, otimista e sonhador. Eu não sei qual é o poder da vida nem o significado do poder que as palavras exercem sobre mim. Acho que ainda não aprendi a gostar de ser gente, embora eu ame a gente desse mundo em sua complexidade e diversidade. E adore coisas humanas como sentir saudade, comer doce, ouvir música, ler livro, admirar pinturas, plantas e fotografias, assistir a filme e escrever.
Enfim, gostaria apenas de dizer que eu acredito ser um ser constituído por tudo o que se experienciou no cosmos e nessa vida. E dizer que agradeço imenso às lembranças, o carinho, todos os abraços, torcida, afeição, solidariedade, força, magnitude e compaixão de cada um que se ocupou de me felicitar nesse aniversário.
O meu abraço mais tenro. E o meu desejo de que todas as crianças tenham comida no prato e o universo na mente.
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