A AURORA DOS MEUS SONHOS
"Outono na Baviera" - Kandinsky
Era um dia qualquer de inverno rígido e chuvoso, um céu bastante nublado e cheio de silêncio. Os dias em Itaporanga eram silenciosos e densos, muito densos. Casas modestas, jardins pelos quintais, muros baixos e portões de madeira.
O dia caminhava lento e, ao final das cinco, o sol estatelava seu reluzente amarelo em despedida. Ruas calmas, folhas passeando pela grama entre os canteiros, nem o som de pássaros se ouvia.
Logo as seis, todas as donas de casa corriam para seguir o capítulo da novela, enquanto o feijão cozia no fogo. Dava para ouvir o chiar das panelas e o plim plim da tevê anunciando a hora. Nesse tempo, o Joaquim corria para a praça com o violão nos braços, porque ensaiar em casa naquele instante era impossível. Mas a friagem constante não pausava e sua ansiedade em tocar lhe corroia as têmporas.
Não podia imaginar-se distante, mesmo que unido ao violão - o que mais amava: a música e só depois... -, não conseguia enxergar o que viria depois da música que lhe era tão sutil proporcionando o sentir da alma e cada membro de seu corpo em sintonia, mesmo que por instantes.
Pôs-se a refletir com os cotovelos na janela e os joelhos assegurados na cama encostada na parede. Pensou que nada nesse mundo pudesse oferecer tanta segurança e certeza de viver, como se soubesse todas as respostas, embora sem palavras. Energia contaminando-lhe o corpinho franzino e espichado.
Os olhinhos fundos de tanto acreditar no infinito podiam lhe trazer a dor e o sentimento mais humilde, mas preferia amar a música, o vento, o crepúsculo das seis e o mar, a chuva, borboletas, pássaros, árvores, nuvens, estrelas e o amor... simples assim.
A aurora dos meus sonhos by Túlio Henrique Pereira is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Era um dia qualquer de inverno rígido e chuvoso, um céu bastante nublado e cheio de silêncio. Os dias em Itaporanga eram silenciosos e densos, muito densos. Casas modestas, jardins pelos quintais, muros baixos e portões de madeira.
O dia caminhava lento e, ao final das cinco, o sol estatelava seu reluzente amarelo em despedida. Ruas calmas, folhas passeando pela grama entre os canteiros, nem o som de pássaros se ouvia.
Logo as seis, todas as donas de casa corriam para seguir o capítulo da novela, enquanto o feijão cozia no fogo. Dava para ouvir o chiar das panelas e o plim plim da tevê anunciando a hora. Nesse tempo, o Joaquim corria para a praça com o violão nos braços, porque ensaiar em casa naquele instante era impossível. Mas a friagem constante não pausava e sua ansiedade em tocar lhe corroia as têmporas.
Não podia imaginar-se distante, mesmo que unido ao violão - o que mais amava: a música e só depois... -, não conseguia enxergar o que viria depois da música que lhe era tão sutil proporcionando o sentir da alma e cada membro de seu corpo em sintonia, mesmo que por instantes.
Pôs-se a refletir com os cotovelos na janela e os joelhos assegurados na cama encostada na parede. Pensou que nada nesse mundo pudesse oferecer tanta segurança e certeza de viver, como se soubesse todas as respostas, embora sem palavras. Energia contaminando-lhe o corpinho franzino e espichado.
Os olhinhos fundos de tanto acreditar no infinito podiam lhe trazer a dor e o sentimento mais humilde, mas preferia amar a música, o vento, o crepúsculo das seis e o mar, a chuva, borboletas, pássaros, árvores, nuvens, estrelas e o amor... simples assim.
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Comentários
D'A Gata Por Um Fio, deslizei até aquí e acabei me perdendo em tuas páginas, tanto gostei dos teus escrits. Já passeei pelas postagens anteriores e conhecí um pouco dos teus poemas, dos teus escritos. Este conto, especialmente, me tocou. Seja pela linguagem, seja pela abordagem, um anzol me fisgou e aquí estou, conhecendo e xeretando. Um abraço.