O vento não esvoaça meus cabelos porque são crespos... curtos



o vento não esvoaça meus cabelos
porque são crespos... curtos
símil deles?
aparentemente pretos
...
a água
passeia pelos meus cabelos
crespos
curtos
...belos (PEREIRA, p. 59)

Um livro de poemas nada convencional trazendo muito da identidade negra com lirismo distante da pieguice. Despreocupado com a estética poética tradicional, portanto distante das nuances concretas, o jovem escritor Túlio Henrique Pereira nos oferece uma leitura intrigante e questionadora.

Em “O observador do mundo finito”, seu livro de estréia na poesia brasileira, esse jovem pesquisador em história fala do mundo real visto através da subjetividade de seu olhar, contando o cotidiano de sujeitos normais, muitas vezes esquecido pela sociedade contemporânea.

A pele toma conotação de vestimenta na abertura do livro com o poema “Vestido de sol”, onde o poeta se liberta da condição de segregação reservada ao homem dito ‘moderno’: livre das concepções ideológicas que lhe cegam, este homem encontra no cosmos a proteção mítica da necessidade de sobrevida, que se consiste na real essência do viver. Narrando a felicidade sem adjetivações, percebemos um ser vestido apenas com a pele, sentindo-a no seu flanar mais sublime e sólido. Vê-se o sol vestindo-o no corpo, sentido apenas pela pele e o consciente.

Assim o poeta segue nas páginas seguintes com sua escrita esfarrapando o tempo fiapo por fiapo, mostrando-se humano e dorido, profundo e tardio, distante e solitário em seu ofício de observar aqueles que existem, embora se permitam inexistir em tempos de ditadura velada, consciência coletiva e fome. Fome seja essa de desejo ou demasiado desejo por tudo que não alimenta.

Não por acaso o filme “A conquista do paraíso” (1492 - Conquest of paradise) de Ridley Scott é referência na capa do livro, em uma ilustração em aquarela e lápis aquarelável baseada na primeira cena do filme.

Para muitos o livro é um chute no estômago, enquanto para outros sua contextualização se reserva a uma fase de aprendizado e existencialismo do próprio autor. As respostas são inconclusas até que a obra se defina como retrato ou plumagem temporã.

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