Gerontofilia, Madonna e o que provoca uma chupada no palco

Performance a celebrar 40 anos da carreira de Madonna

 
Ontem à noite eu estava na cama vendo o filme Gerontofilia, pela segunda vez, quando recebi a mensagem da minha irmã, a perguntar se eu assistia ao show da Madonna. 
 
Eu respondi que não. Em seguida perguntei a ela se estava vendo. Ela respondeu que sim, e que estava impressionada com a qualidade de tudo. 
 
Minha família é testemunha do quanto eu ouvia e cantava as músicas da Madonna, Prince, Janet Jackson, Michael Jackson, Whitney Houston, Christina Aguilera, Mariah Carey, Aaliyah, Beyoncé e tantas outras divas e divos populares. 
 
Hoje eu sou um homem muito adulto que oscila entre a maturidade sensível e a imaturidade insensível das coisas. Eu já estive em um show da Madonna, minha amiga Sandra Santos me deu esse presente no aniversário dela, em Porto Alegre, RS.
 
Desliguei o filme e fui ver a Madonna performar. Realmente foi lindo e nostálgico, parabéns ao Itaú e à Madonna. E aos brasileiros que lotaram a praia de Copacabana. Madonna segue sendo uma excelente profissional do entretenimento. Inúmeras personalidades mundiais e brasileiras foram homenageadas em telão, especialmente negras. Isto a torna muito atualizada, e ela se reinventa a cada turnê.
 
A Madonna está oportunizando muito aos seus filhos negros, apresentou o talento deles no palco: pianista, dançarina, bailarinos, cantores, musicistas e belíssimos. Isso é tão disruptivo, tão progressista. 
 
No entanto, o sexo ainda é o produto central, e não há nada de errado nisso, não vou discorrer a respeito, pois daqui a pouco serei criticado por gays brancos que dizem amar fazer sexo com homens pretos. E gays pretos a dizer que amam serem procurados por brancos porque compreendem ser apenas um fetiche, e que seus corpos torneados nas academias servem para isto mesmo. 


Cartaz do filme Gerontofilia


Eles defenderão a Madonna e me acusarão de mimimi e de discurso cristão conservador etc., até porque a branquitude conseguiu se proteger, especialmente pelo amparo dos corpos racializados. A branquitude nem precisa fazer o trabalho sujo. 
 
Eu, todavia, fiquei mexido ontem, e, mais ainda ao acordar, hoje pela manhã, e ler a notícia: “Anitta e Madonna protagonizam cena de sexo oral em palco do Rio - Cena de sexo oral foi durante a apresentação da música Vogue. Anitta fez participação especial e deu nota aos modelos de Madonna no show”. 
 
Tanto nos comentários dos jornais, quanto nas redes de fofoca a manchete foi trazida e comentada como uma ação progressista, inovadora e contra o conservadorismo. Sinto dizer, mas não é inovador, nem sequer progressista.

A performance deu protagonismo a dois homens pretos retintos besuntados. As matérias falam das divas, sequer mencionam ou aprofundam a performance dos dançarinos. A função deles é apenas a de chupá-las. Conservadores se denominam assim porque se utilizam da hipocrisia e do recalcamento de suas práticas sexuais, mantidas em sigilo. Eles também utilizam dos corpos negros, tal como Anitta e Madonna o fazem.
 
Eu esperava mais da Madonna nesse quesito, muito mais. Ela, inclusive, possui filhos pretos, e deveria saber que nossos corpos sofrem da objetificação esvaziada, na qual nosso uso social se restringe ao trabalho e ao sexo desprovido de valor.
 
Transam escondidos com os pretos, porém escolhem os brancos para o afeto social. A fetichização racializada lucra muito dinheiro com o imaginário em torno da sexualização do negro potente, mas não se importa com as entrelinhas da vida complexa dessas personagens reais.
 
Em um de seus discursos anos atrás, Madonna recuperou uma ideia política musicada por John Lennon e Yoko Ono: "a mulher é o negro do mundo". E isto deveria nos ajudar a implementar mudanças mais profundas.

Comentários