DELICADO
Delicado faz parte de uma coleção de crônicas do escritor brasileiro Nelson Rodrigues, publicadas na coluna A vida como ela é do jornal Última Hora entre 1951 e 1961.
Vôo em busca do segredo da vida
Um menino comum, cabelos castanhos, sedosos, lindas mãos e um olhar carregado de vida. Era assim que todos o tratavam. Impossível não vê-lo sem positivas adjetivações. Sua inteligência transcendia o talento dedicado ao piano, canto lírico, a fluência do francês e a concepção ligeira da originalidade no seu pensamento.
Ninguém pensava como ele, nunca acreditavam, nem ele mesmo. Tanto talento em uma pessoa tão repleta de humanidade e encanto. Qual defeito? De onde tudo? Por quê? A genialidade mostra-se inexplicável quando a dúvida poderia abstrair o fascínio da introspecção singelamente sublime.
O mundo a cada dia menor e as calças já não lhe serviam mais. Aos 18 anos o primeiro carro – a gente nunca esquece -, um porre na balada com os amigos até o amanhecer do dia. A meiguice de Luís continuava, mas agora dividia os holofotes com a namorada Fernanda tão talentosa quanto ele. Humilde e generosa.
No banco da sacada do prédio de casa, ainda se conserva menino, porque ninguém fala quando não há o que dizer. E as palavras nessas horas são como o vento que passeia pela face sem se apresentar. A multidão embaixo não espera nada, correm com a voracidade do uso espontâneo de seus dias. E ele, certo de que as respostas lhe encontrariam perdido no espaço entre o vento e o asfalto.
Fomos a Paris
mas o gel que usamos
no sexo
era brasileiro
Não que isso fizesse
a diferença
Só não mudou
em nada
PEREIRA, Túlio Henrique. O observador do mundo finito. Scortecci Editora; São Paulo, 2008, p.73.
Comentários
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qualquer gel desperta a pele...
a propósito, como vai o curso de francês?
beijo