SARA RA CRIOULO

Já me decidi. No final desta semana raspo meu cabelo pixaim. Isso porque cresci omisso à realidade deste sistema. Ultimamente ando esquisito demais, pensando no passado e no presente e morrendo de medo do futuro, a vida é tão maluca e eu ainda paro para pensar nela.

Por que vou raspar o cabelo? Porque eu não posso me matar, não tenho coragem. Também é impossível renascer e não tenho religião, por isso rasparei os cabelos, uma simbologia de renascimento...

Lembro-me de um tempo há pouco mais de três anos quando, por incidente, uma cabeleireira raspou meus cabelos... eu estava mudando, tomando nova forma, crescendo biologicamente e me inserindo no mundo como sujeito. Hoje eu estou assujeitado no mundo procurando a saída ou o fio da ninhada perdido entre os dias que se foram. Ansioso demais, contudo nunca atrás do começo, espero o fim. Exatamente isto: o fim dos dias para que eu possa digeri-los com sobriedade.

Agora descobri que ninguém me ama, nem eu mesmo. E descobri mais: acho que ninguém ama alguma coisa ou pessoa. Estamos aqui vestindo máscaras para desfilar nossos ócios e fadigas, maquiar a cara, botar roupa bonita e transar.

Quando eu nasci eu cheguei a pensar que a vida fosse muito mais que isso, mas me fizeram acreditar no contrário e acreditei, mas logo depois percebi que eu estava mentindo e ajudando outras pessoas a mentirem – chega! Daqui a pouco tenho outro surto suicida! -, desejando aquilo que não podem porque são de carne.

Na verdade eu queria ser de queijo, porque ser de aquário é insólito demais!

Comentários

Anônimo disse…
Estamos sempre representando..nossos rostos sao revestidos por uma máscara que nega a nossa real identidade.

Adorei seu post. Muito bom.

Beijos,
Lu Rosário
www.sempudor.blogs.sapo.pt
Anônimo disse…
eu também queria "ser de queijo", quem sabe alguém me comia...kkkkkk...
amigo, falando sério, lindo esse texto, me vi nele em cada palavra...