O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA MINHA VIDA
Acordei as sete horas da manhã de hoje ouvindo um silêncio que não era o comum. Despertei sem o auxílio de um despertador ou do celular, abri os olhos, virei de lado na cama e pronto: acordado.
A estranheza do ar invadindo os pulmões fez-me lembrar que agora o dia começara. E sim, nada seria tão simples ou complexo ao ponto de desistir no meio do caminho – está certo! Uma bala perdida, acidente de carro, mas apenas isso ou uma taquicardia -, de pedras.
Um banho quase frio, não por vontade. Os dentes... granola, matinais transbordando ao leite e um suspiro de alívio com arrepio na nuca e aperto abdominal. Acho que medo só desaparece quando a morte chega e anestesia a fala.
Saí do meu quarto e depois do apartamento iluminado de sol. Três degraus de escada me fizeram ofegar de cansaço, sou réu confesso do sedentarismo. Quando abri a enorme porta de madeira, depois de pular um lambuzado vômito derramado na escada, todos os silêncios desistiram de soprar ao vento.
Percebi que a vida escorria pelas vias e vielas costurando o centro da cidade. Nunca imaginei uma Bahia assim com rostos dispersos e apressados, carros e bicicletas e muitas crianças garimpando um pão de papelão.
Atravessei a rua de homens trabalhando e comprei cabos para finalmente acessar a Internet. Em seguida sai da loja para fazer cópias das chaves caminhando a pé pelas ruas ensolaradas, segurando uma sacola plástica nas mãos. “Dois minutos” – disse o chaveiro – depois de três ou quatro, e, oito reais a menos na carteira minhas duas cópias estavam prontas.
Voltei para casa e selei o cabo na parede com o auxílio de fita adesiva. Ufa! Demorou mais do que eu pensava, só consegui acesso lá pelo meio dia, quando o técnico da lojinha subiu e desceu minhas escadas por duas vezes reclamando de sua barriguinha nada gentil.
A tarde atravessou o meu dia, talvez o primeiro do resto da minha vida arbitrária. Estudei o chato o inglês e até pensei em ouvir as aulas de francês, mas não tive vontade. Ultimamente tem faltado vontade à minha vida, e muitas vezes vontade de ter vontade mesmo.
Visitei a ONG onde sou colaborador voluntário e logo depois de uma reunião descobri que tenho mais responsabilidades para a manutenção da minha desvantagem de ação do que para cooperação social.
A noite caminhou tranqüila sobre o asfalto de terra branca. Os faróis elucubrados perdidos entre automóveis nervosos de sobriedade, e o vento despretensioso marcando cada segundo perdido por todos. Fui ao inglês e voltei pela mesma rua pensando no fato de tomar um sorvete porque não estava em um carro para ser estacionado, ou mesmo acelerado por hipnóticas urgências.
Entrei na sorveteria e – não posso negar -, pensei no amor e na idéia de não se ter um amor, ou mesmo no fato de não ter o equilíbrio da hora para cozinhar o almoço ou despertar um desejo amortecido. Pensei na minha cama azul do jeito que a deixei pela manhã, tal como as fotografias, o céu e os sonhos.
Não preciso mais centrar, responsabilizar ou falar. Não quero justificar: o quê? Para quem? São correntes deslocadas, são sentidos presumíveis e vorazes... quando um toque quente extinto lhe toca a mão e beija, e você chora por dentro para não mostrar o que é. E você ri para dentro para não abraçar o que quer e despertar o sortimento egocêntrico do mito do outro; quando nessas horas se faltam e falta.
A liberdade é um mito, bem como se faz o desejo e o gosto. Mas a minha alma tem riso, olho, boca e corpo, e chora, e canta, dorme e acorda e grita e ama o desconhecido e sólido da matéria.
Lembrei do trabalho e do prazer em senti-lo comigo, depois dispensei, por considerar capitalista demais o meu tempo mesmo fragilizado. Pensei naquilo que eu queria tocar e no que não poderia amar como amo de dentro para dentro sem recíproca ou entendimento. Acoplado nos sinais vermelhos que impedem os passos, e os olhinhos de ponte rindo soltos para mim.
Hoje eu acordei as sete da manhã ouvindo o silêncio da minha alma que ama sem ao menos entender ou sentir o que seja o amar mesmo piegas ou gregoriano; mesmo anticéptico ou descartiano, fluído... como os suores evaporando aos céus... e todos os micróbios assentando leves junto a poeira sobre os pés.
A estranheza do ar invadindo os pulmões fez-me lembrar que agora o dia começara. E sim, nada seria tão simples ou complexo ao ponto de desistir no meio do caminho – está certo! Uma bala perdida, acidente de carro, mas apenas isso ou uma taquicardia -, de pedras.
Um banho quase frio, não por vontade. Os dentes... granola, matinais transbordando ao leite e um suspiro de alívio com arrepio na nuca e aperto abdominal. Acho que medo só desaparece quando a morte chega e anestesia a fala.
Saí do meu quarto e depois do apartamento iluminado de sol. Três degraus de escada me fizeram ofegar de cansaço, sou réu confesso do sedentarismo. Quando abri a enorme porta de madeira, depois de pular um lambuzado vômito derramado na escada, todos os silêncios desistiram de soprar ao vento.
Percebi que a vida escorria pelas vias e vielas costurando o centro da cidade. Nunca imaginei uma Bahia assim com rostos dispersos e apressados, carros e bicicletas e muitas crianças garimpando um pão de papelão.
Atravessei a rua de homens trabalhando e comprei cabos para finalmente acessar a Internet. Em seguida sai da loja para fazer cópias das chaves caminhando a pé pelas ruas ensolaradas, segurando uma sacola plástica nas mãos. “Dois minutos” – disse o chaveiro – depois de três ou quatro, e, oito reais a menos na carteira minhas duas cópias estavam prontas.
Voltei para casa e selei o cabo na parede com o auxílio de fita adesiva. Ufa! Demorou mais do que eu pensava, só consegui acesso lá pelo meio dia, quando o técnico da lojinha subiu e desceu minhas escadas por duas vezes reclamando de sua barriguinha nada gentil.
A tarde atravessou o meu dia, talvez o primeiro do resto da minha vida arbitrária. Estudei o chato o inglês e até pensei em ouvir as aulas de francês, mas não tive vontade. Ultimamente tem faltado vontade à minha vida, e muitas vezes vontade de ter vontade mesmo.
Visitei a ONG onde sou colaborador voluntário e logo depois de uma reunião descobri que tenho mais responsabilidades para a manutenção da minha desvantagem de ação do que para cooperação social.
A noite caminhou tranqüila sobre o asfalto de terra branca. Os faróis elucubrados perdidos entre automóveis nervosos de sobriedade, e o vento despretensioso marcando cada segundo perdido por todos. Fui ao inglês e voltei pela mesma rua pensando no fato de tomar um sorvete porque não estava em um carro para ser estacionado, ou mesmo acelerado por hipnóticas urgências.
Entrei na sorveteria e – não posso negar -, pensei no amor e na idéia de não se ter um amor, ou mesmo no fato de não ter o equilíbrio da hora para cozinhar o almoço ou despertar um desejo amortecido. Pensei na minha cama azul do jeito que a deixei pela manhã, tal como as fotografias, o céu e os sonhos.
Não preciso mais centrar, responsabilizar ou falar. Não quero justificar: o quê? Para quem? São correntes deslocadas, são sentidos presumíveis e vorazes... quando um toque quente extinto lhe toca a mão e beija, e você chora por dentro para não mostrar o que é. E você ri para dentro para não abraçar o que quer e despertar o sortimento egocêntrico do mito do outro; quando nessas horas se faltam e falta.
A liberdade é um mito, bem como se faz o desejo e o gosto. Mas a minha alma tem riso, olho, boca e corpo, e chora, e canta, dorme e acorda e grita e ama o desconhecido e sólido da matéria.
Lembrei do trabalho e do prazer em senti-lo comigo, depois dispensei, por considerar capitalista demais o meu tempo mesmo fragilizado. Pensei naquilo que eu queria tocar e no que não poderia amar como amo de dentro para dentro sem recíproca ou entendimento. Acoplado nos sinais vermelhos que impedem os passos, e os olhinhos de ponte rindo soltos para mim.
Hoje eu acordei as sete da manhã ouvindo o silêncio da minha alma que ama sem ao menos entender ou sentir o que seja o amar mesmo piegas ou gregoriano; mesmo anticéptico ou descartiano, fluído... como os suores evaporando aos céus... e todos os micróbios assentando leves junto a poeira sobre os pés.
Comentários
Parabéns!
abração
vc parece um sol que palavreia as nossas almas...
SUCESSO ARTISTA...
obrigado pelo apoio...
vc é um genio
DESCULPE MEU TECLADO ESTÁ DESCONFIGURADO....AINDA....
BRUNO BLACK
alskander