QUEM É MAIS INTELIGENTE, O LIVRO OU A SABEDORIA?


Tudo aconteceu como um flash. De repente lá estava eu, sentado no banco de um trem, sendo levado para o Jabaquara. Em minha mente podia ser qualquer coisa, menos um aconchego fraternal com gosto de mamãe batizada pelo nome Diva. Hospedei-me sobre a garoa paulista das noites frias que escoam de dentro dos paulistanos forçosamente brasileiros.

Os dias em São Paulo voam porque os caminhos custam dinheiro e atenção, embora existam sem consciência. Por muitas vezes me senti uma areia literalmente perdida no meio de um deserto, os carros e os corpos apressados transitando por entre neblina e faróis me lembraram o playmobil da infância. Senti-me vivo, embora mais morto do que nunca.

Minha estréia na 20ª Bienal do Livro de São Paulo foi tímida, calada e com atraso. Nada ofuscou o brilho da minha alma embora esta padecesse em obscuridades incutidas sob a pele e os olhos ensimesmados. Todos sorriam, pousavam para os flashs, discorriam sobre suas obras, sempre as melhores, as mais bem idealizadas, fundamentais, importantíssimas... e o mais importante: comerciais.

“O observador do mundo finito” estava sobre a pequena mesa de vidro redonda, foi retirado de seu suporte umas duas ou três vezes e por ora ameaçaram comprá-lo, mas ao folheá-lo uma surpresa: “do que falam esses textos?” – Acho que respondi umas duas vezes, mas ninguém entendeu, embora fizessem face.

“...desapareço quando penso, quando não penso inexisto...”, muitos têm sido os conflitos meus e a poesia que encontram em meus escritos não são receitas de bolo, é a vida dos corpos vazios que carrego e acredito. Estas não são simples ou exageradamente comuns. São alfabetizadas na melhor escola do universo: o tempo cuspido e escarrado, fedido e sujo, inanimado e animado e tão lembrado que se faz esquecido sobre inúmeros aparadores e livros e corpos vazios caminhando sobre os caminhos caros e fundamentais.

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