CASOS ISABELLA

Isabella da Silva, aos nove anos de idade, esquartejada viva depois de ser estuprada pelo tio. Sua família não foi convidada a dar entrevista ao Fantástico.

Isabella Maria, aos doze anos de idade, é mãe de dois filhos de seu pai Zé Maria. Sua mãe não foi flagrada aos prantos por nenhum jornalista famoso.

Isabella Tereza, aos onze anos de idade, se prostitui em troca de alguns centavos nas ruas desde os oito. Nenhuma assistente social, vereador, prefeito, deputado, senador ou presidente, concedeu declaração pública lamentando por sua situação de sobrevivência.

Isabella Joaquina, baleada aos cinco anos quando tomava sorvete na favela onde morava. Nenhum grupo de moradores do Leblon, comovidos com sua trágica história, vestiu uma camiseta branca com a fotografia de seu rosto e saiu pelas ruas a pedido de paz, segurando a mão de sua mãe desolada.

Isabella Margarida foi estuprada pelo pai aos sete anos e asfixiada com uma sacola de supermercado. O pai fugiu da cidade onde moravam e nenhum delegado investiga o ocorrido. Nenhum padre fez missa especial com a comunidade do bairro. Ninguém comentou o assunto.

Os nomes, casos e fotografias são fictícios. No entanto, as Marias, Isabelas e Pedros, são reais, embora não apareçam em rede nacional.




PAGAR PRA VER

Em um país onde paraplégicos, tetraplégicos, orientais, obesos, negros, homossexuais e idosos não tem valor comercial – informação legitimada diariamente nas tramas novelísticas, cinematográficas, propagandas de xampus, perfumes, sabonetes etc, etc, etc. –, perdemos mais uma atriz da época de ouro, afastada da mídia por causa de sua velhice. Carmem Silva faleceu aos 92 anos na última segunda-feira em Porto Alegre. Uma obrigação a menos para os diretores de tevê? Ou o descanso de uma alma cansada de mundo?


MÍDIA, MÍDIA, MÍDIA

Esse assunto não sai da minha cabeça na edição renovada desta coluna, então, para fazer jus a ele recorremos a nossa pragmática necessidade de assistir televisão. E recorremos aos recursos oferecidos pelo canal mais assistido no Brasil: a Globo. Será que nenhum brasileiro percebe que não se vê na Globo?


MÍDIA, MÍDIA, MÍDIA II
O fato de o programa Fantástico ser recheado de curiosidades sobre a vida e o comportamento da população norte-americana nos leva a questionar sobre a relevância da pesquisa sobre comportamento humano no Brasil. Será que não existem pesquisadores bons no país? Será que não existem curiosidades aqui em regiões de fácil e difícil acesso para mostrar a todos? Por que essa necessidade de valorizarmos sempre as coisas do vizinho?


MÍDIA, MÍDIA, MÍDIA III

Enfim, muitos devem estar dando minha alma ao Diabo por falar mal de uma emissora tão popular. Mas como já disse o poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador iluminista francês, Voltaire, espero que até possam não concordar com nenhuma das palavras que digo, mas que defendam até a morte meu direito de dizê-las.


NADA É POR ACASO

Quando a tela O Lavrador de Café do brasileiríssimo Candido Portinari foi roubada em São Paulo há uns meses atrás senti uma sensação de êxtase imenso e falei comigo mesmo “Nossa! Alguém valoriza as artes neste país!!!”. Lembro-me de repetir várias vezes essa frase, mas sem demagogia. Só assim a população brasileira se deu conta de que existem obras primas aqui na terra tupiniquim, e que essas têm valores ‘comerciais’ altíssimos.


O ACASO É POR NADA?

Outra coisa que ninguém ficou sabendo é que O Lavrador de Café não foi a primeira obra de Portinari a ser roubada no Brasil. Em 2005, três homens armados roubaram Preparando Enterro na Rede na Galeria de Arte Thomas Cohn, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista. Olha que tem bandidos mais espertos que pseudos intelectuais com pose e nonsense.


Candido Portinari, Pipas, 1941
O CAÇADOR DE PIPAS
Ainda estou lendo este livro e confesso encontrar nada demais. Tem as doses certas à la Paulo Coelho ou Zíbia Gasparetto, e uma promoção internacional de milhares de dólares. Mas, como tenho feito muito nos últimos tempos, encararei a leitura como um desafio e chegarei ao fim: sob lágrimas e riso, mas na certeza de que admirar as Pipas de Portinari seja mais enriquecedor.

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