Os sentidos suscitados pelos sentires



Edward Hopper - Hotel Room

As palavras sempre me chegaram antes dos sentidos. E por isso nunca consegui significá-las no tempo em que eram desferidas sobre mim. Lançadas, em alguns momentos, atiradas de um modo até violento. Não tenho a lembrança clara do instante em que os sentidos me tomaram o corpo e implantaram-me significações aplicáveis. Eu me lembro de quando criança não sentir medo, embora ouvisse muito essa palavra, e ela sempre associada ao escuro, à solidão, aos fatos isolados do cotidiano individual. Lembro-me que não me imaginava bonito ou feio, negro ou branco, gordo ou magro, até ouvir um grito ressoar as identidades que os olhos alheios condicionavam ao meu respeito, e ao me nomearem em negativas considerações. Eu não sei o sentindo que as palavras têm quando essas estão na mente do outro, mas sei o que sinto quando as pronuncio, porque da mesma forma que aprendi a significá-las, passei a acreditar que qualquer corpo humanizado o saberia fazê-lo. Ainda que parta de si em seu contexto, e mesmo visualizado no outro. O meu passado me condena a ser síntese. O meu presente revela o exato instante em que a síntese não encontra significação. E volto a ser presente no ontem.
Pintura: Edward Hopper - Hotel Room

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